Ter, 27 de junho de 2017, 12:55

Estudo parcial indica possíveis problemas respiratórios em trabalhadores de casas de farinha de Campo do Brito
Em todos os testes realizados, dados obtidos ficaram abaixo do padrão esperado

Localizado no agreste central sergipano, a cidade de Campo do Brito tem uma população, segundo o Censo do IBGE de 2015, de 17.986 habitantes. A produção de mandioca é um dos destaques da agricultura e uma das bases da economia do município. Um dos produtos derivados é a farinha.

O processo de produção da farinha segue basicamente as seguintes etapas: lavagem, ralagem, prensagem, torragem, peneiragem, acondicionamento e armazenamento. Lamentavelmente, é comum a constatação de problemas para a saúde dos trabalhadores, especialmente em virtude da dispersão do pó branco da mandioca, situação que leva ao desenvolvimento de doenças respiratórias ocupacionais, prejudicando a capacidade pulmonar.

Estes problemas foram constatados de forma parcial na pesquisa “Análise da capacidade pulmonar e força musculatura respiratória em trabalhadores de casa de farinha”, coordenada pelo professor Carlos Matos e pelas estudantes, Francielli Peixoto e Verônica Menezes, do curso de fisioterapia. Iniciada em março deste ano, após a aprovação no Comitê de Ética da UFS, a coleta de dados foi realizada por meio de teste de caminhada de seis minutos, pico de fluxo expiratório e de pressões inspiratórias e expiratórias máximas. Foram entrevistados 51 trabalhadores, 39 mulheres e 12 homens, com idade média de 35 anos, no Povoado Gameleira. Os valores foram obtidos a partir de uso de fórmulas matemáticas, de acordo com o sexo e a altura de cada pessoa. Entrevistaram-se descascadores, forneiros, prensadores, raladores.


Casa de Farinha no Povoado Gameleira, no município de Campo do Brito, agreste central sergipano (foto: colaboração professor Carlos Matos)
Casa de Farinha no Povoado Gameleira, no município de Campo do Brito, agreste central sergipano (foto: colaboração professor Carlos Matos)
A dispersão do pó branco pode ocasionar problemas na capacidade pulmonar dos trabalhadores das casas de farinha (foto: colaboração professor Carlos Matos)
A dispersão do pó branco pode ocasionar problemas na capacidade pulmonar dos trabalhadores das casas de farinha (foto: colaboração professor Carlos Matos)

Teste de Caminhada

Usado para avaliar a capacidade pulmonar e cardiovascular de pessoas doentes ou saudáveis, o teste de caminhada de 6 minutos (TC6), surgiu na década de 1970 e é considerado de simples e de fácil execução. As estudantes constataram uma média de 498,35 metros percorridos, abaixo do esperado, cuja medida é de 649 metros. Na realização desta atividade, as alunas tiveram algumas dificuldades para que os homens participassem. “Quando a gente estava fazendo a coleta com alguém, os outros ficavam tipo zobando, olhando e aí não queriam fazer aquilo porque levava tempo. Outros, porque não tinha quem substituísse no trabalho. A maioria dos homens é forneiro. Não tinha como deixar o forno sozinho e causar a queima da farinha”, explicou a estudante Francielli Peixoto.


Teste de caminhada de 6 minutos (foto: colaboração professor Carlos Matos)
Teste de caminhada de 6 minutos (foto: colaboração professor Carlos Matos)

Pico de fluxo expiratório (PFE)

Adequado para monitoramento de doenças pulmonares como a asma, o PFE baseia-se na medida do sopro e o objetivo é saber se existe algum problema obstrutivo pulmonar. O valor normal é de 486 L/minuto. Porém, após os testes, as estudantes obtiveram a marca de 354,86 L/min. Primeiramente, o participante realizava uma inspiração para depois soltar o ar. Com os dedos no nariz para que o ar não entrasse e sentados em uma cadeira, os indivíduos, por meio do instrumento peak flow, em que foram usados bucais individuais, para evitar contaminação, sopravam com a força máxima que eles tinham. “O aparelho levanta uma setinha e dá o valor que você alcançou”, descreve Francielli.


Teste de pico de fluxo expiratório(foto: colaboração professor Carlos Matos)
Teste de pico de fluxo expiratório(foto: colaboração professor Carlos Matos)

Manovacuometria

A manovacuometria, também realizada com os participantes sentados, é um método para a avaliação das pressões musculares respiratórias. De acordo com Francielli, “a gente pedia uma inspiração máxima, fechava o nariz e ele soprava com toda a força no bucal. A gente pegava a Pemax (Pressão Expiratória máxima)”. No caso da Pimax, o participante liberava todo o ar, esvaziando todo o pulmão. Fechava-se o nariz e o ar era puxado dentro do bucal. O que se verificou foi na pressão inspiratória máxima (Pimax),52,35 cmH20 (±13,65), abaixo do padrão, 162,52 cmH20. Na pressão expiratória máxima (Pemáx),58,05 cmH20 (±7,04), também inferior ao esperado, 149,90 cmH20.

Avaliação de saudáveis

Obtidos estes resultados, na etapa seguinte serão realizados testes com pessoas saudáveis. “O objetivo de avaliar saudáveis, seria a comparação em pessoas que não tenham contato com esse ambiente e se existe interferência na função e capacidade pulmonar”,explica o professor Carlos Matos.
Em relação a esta primeira etapa, o docente afirma que a pesquisa não avaliou doenças e nem tanto diagnóstico clínico, pois não é o papel da fisioterapia. “Avaliou sintomas respiratórias e capacidade pulmonar, pois isso interfere na realização de atividades do dia a dia, o quanto isso interfere na função relacionada ao movimento”, concluiu.


Teste de manovacuometria (foto: colaboração professor Carlos Matos)
Teste de manovacuometria (foto: colaboração professor Carlos Matos)
Da esquerda para direita: a estudante Francielli Peixoto, professor Carlos Matos e a aluna Verônica Menezes no V Congresso dos Sertões de Fisioterapia Respiratória, Cardiovascular e em Terapia Intensiva e o II Congresso e Jornada Sergipana no Campus de Lagarto, quando os resultados da primeira etapa da pesquisa foram apresentados (Foto:Ascom UFS Lagarto)
Da esquerda para direita: a estudante Francielli Peixoto, professor Carlos Matos e a aluna Verônica Menezes no V Congresso dos Sertões de Fisioterapia Respiratória, Cardiovascular e em Terapia Intensiva e o II Congresso e Jornada Sergipana no Campus de Lagarto, quando os resultados da primeira etapa da pesquisa foram apresentados (Foto:Ascom UFS Lagarto)
Atualizado em: Qua, 26 de julho de 2017, 14:13