Sex, 21 de dezembro de 2018, 12:32

Parceria entre UFS, Delegacia e Prefeitura promove grupos de responsabilização para homens autores de violência doméstica
Ação também conta com grupo de apoio para mulheres vítimas de violência
Delegada Ana Carolina, professora Sandra e coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres Cristiane
Delegada Ana Carolina, professora Sandra e coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres Cristiane

Refletir, compreender o erro, desconstruir conceitos do machismo e quebrar o ciclo de violência. Estes são alguns dos objetivos do Grupo de Autores de Violência Doméstica (Gasvid). As reuniões semanais são coordenadas pela professora Sandra Aiache Menta, do Departamento de Terapia Ocupacional do campus Lagarto. Os homens são encaminhados pela delegada Ana Carolina Machado Jorge, da Delegacia de Grupos Vulneráveis de Lagarto. A ação, pioneira em Sergipe, é realizada desde 2013 e atendeu cerca de 130 homens em 2018.

Para participar do Gasvid, o homem deve ter sido denunciado em situação de violência enquadrada na Lei Maria da Penha, desde que sem agressão física ou sexual. A professora Sandra Aiache Menta explica o funcionamento do grupo. “Uma mulher (mãe, companheira, ex-companheira, irmã) denuncia este homem na delegacia. É feito um Boletim de Ocorrência e a delegada avalia cada caso. Se ela considerar que a situação se enquadra nas que atendemos aqui no grupo, esse homem firma um compromisso e passa a frequentar o Gasvid”, observa. Nessas situações, caso o homem cumpra o cronograma de encontros, não falte e compreenda os conceitos abordados, ele é liberado e não é instaurado o inquérito. Se ele descumprir o trato, um relatório é enviado para a delegada Ana Carolina, para que ela tome as medidas necessárias para o prosseguimento do caso.

Outro parceiro importante do Gasvid é a Prefeitura de Lagarto, por meio da coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres, Cristiane Soares. Ela considera a estratégia vitoriosa para a redução dos crimes em Lagarto. “Aqui na cidade, já estamos há dois anos sem feminicídio. Isso é um dado muito importante e mostra que estamos no caminho certo. O atendimento a esses homens é um trabalho inovador, tanto que já fomos procurados por outras instituições e municípios”, observa. O Gasvid é realizado desde 2013, enquanto o Grupo de Apoio de Mulheres Agredidas (Gama), que atende as mulheres que registraram os Boletins de Ocorrência contra esses homens, acontece desde 2012.

Entre as temáticas e atividades abordadas durante os encontros do Gasvid estão a Lei Maria da Penha, as relações familiares, a paternidade, masculinidade, equidade e ciclo de violência, além de ações voltadas para a saúde do homem. “A gente sabe que não vai mudar o pensamento das pessoas, mas é possível mudar o comportamento”, avalia. A professora Sandra utiliza a Psicologia Comportamental, com espaço para reflexão e discussão de conceitos, além de relato de cada homem atendido (sobre o fato que geral o Boletim de Ocorrência e também sobre o contexto afetivo e familiar). A docente conta, atualmente, com o apoio de três estagiárias de Terapia Ocupacional.

A estudante Rayane Gama, do 4o ciclo do curso, explica que a experiência tem mudado sua visão enquanto mulher e futura profissional. “Passei a identificar situações de violência que antes eu não percebia. Ajudou a me empoderar mais e a entender um pouco mais as origens desses pensamentos, dessa violência”, observa. Rayane teve a chance de observar os relatos pelos dois ângulos de cada caso, já que antes do Gasvid, trabalhou no Gama. A prática realizada no Gasvid e no Gama foi o mote da tese de doutorado da professora Sandra, na Área de Psicologia Social, em Buenos Aires.


Atualizado em: Sex, 21 de dezembro de 2018, 13:00
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