Seg, 19 de junho de 2017, 08:00

As parcerias do apoio à inclusão
2 exemplos de acompanhamento a alunos com necessidades especiais

Em 2011, o Decreto Nº 7.611 estabeleceu que nas instituições federais de ensino superior, seriam implantados núcleos de acessibilidade com objetivo de eliminar as barreiras físicas, de comunicação e de informação que restringissem a participação e o desenvolvimento acadêmico e social de estudantes com necessidades especiais.

No Campus Universitário Professor Antônio Garcia Filho, em Lagarto, 21 alunos com necessidades especiais ingressaram em 2016. A Divisão Pedagógica (Dipe) realiza até a segunda semana do ano letivo uma entrevista com estes alunos. Caso haja o pedido de acompanhamento, elabora-se um plano de ação conforme a necessidade de cada estudante,o qual é realizado pelos bolsistas de apoio à inclusão até o término do curso. No ano passado, foram ofertadas 11 vagas pelo Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Proest).

As atividades desenvolvidas pela Dipe executam as estratégias definidas pelo Programa de Ações Inclusivas da Universidade Federal de Sergipe (Praincluir), coordenado pela Divisão de Ações Inclusivas (Dain), subordinada à Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Proest). Nesta reportagem, dois casos de assistência à inclusão. Um deles por servidor da UFS e outro por uma aluna bolsista.

Uma revolução

Na aula de laboratório, células para serem visualizadas. Em casa, vários capítulos de vários assuntos para estudar em pouco tempo e para dificultar não poder contar com a visão. Esta lamentável realidade de deficiência visual total, desde 2008, faz parte da vida da estudante de Terapia Ocupacional,Simone de Almeida, 30, natural de Campo do Brito. Ingressante na UFS em 2013, na lembrança da estudante, as dificuldades no primeiro ciclo, quando os professores procuravam uma solução para passar o conhecimento e para aplicar a prova. A aluna é a primeira deficiente visual total a concluir a graduação em Terapia Ocupacional no Brasil. Em todo o Estado, a Universidade Federal de Sergipe é a única instituição a oferecer o curso, em Lagarto.

A chegada dos equipamentos à Sala de Acessibilidade e de Inclusão e a ajuda do transcritor de sistema braile, José Nilson Andrade dos Santos, contribuiram para a evolução da aluna.Formado em enfermagem, Nilson atualmente é mestrando do Programa de Pós-graduação de Ciências da Saúde (PPGCAS), em Lagarto, e professor voluntário da UFS, atuando no Departamento de Educação em Saúde.

“Os materiais que o Nilson fazia pra mim eram todos em txt e foi uma revolução. Eu dizia: 'Nilson preciso disso'. No mesmo dia ele me entregava Nossa,foi maravilhoso, revolocionou mesmo”, revela Simone, que usa o programa jaws para acessar a internet e para edição de texto no Word, para fazer formatação, copiar, colar, “ler” textos. Já o dosvox a aluna usa para acessar o e-mail e procurar arquivos. A utilização destes dois programas ajudou a estudante a manter o ritmo de estudos e acampanhar as aulas. Antes, Simone contava com a ajuda do servidor Allan Themístocles, assistente em administração, que gravava em aúdio os materiais para Simone ouvir e estudar.

“Quando eu cheguei aqui, eu não tinha conhecimento desses programas, porque eu sabia muito do braille (programa braille fácil) e pouco dessa parte de tecnologia. O pessoal da Bicen já usava um pouco, eu fui estudar com eles me falaram que poderiam usar o dosvox para txt, também o word consegue ler, e aí ela já tinha esses programas em casa, então uniu o útil ao agradável. Eu consegui uma parceria muito boa que deve ser ressaltada com o Dain (Divisão de Ações Inclusivas) com a Suzana(Suzana de Oliveira Santana, coordenadora do Dain). Ela me forneceu tudo o que precisava", disse.

"O Nilson, ele é diferente de qualquer outro profissional que conheci na minha vida. Se eu precisar dele de madrugada, ele me atende. Ele não tem horário. Ele não tem essa coisa: 'Ah porque não tá no meu horário de trabalho. ele me atende'. Ele me salvou mesmo sabe. Realmente revolucionou pra mim aqui nessa Universidade. Nos meu agradecimentos está lá o Nilson", declarou Simone.


A estudante Simone de Almeida e o transcritor de sistema braille, José Nilson de Andrade dos Santos (Foto: Ascom UFS Lagarto)
A estudante Simone de Almeida e o transcritor de sistema braille, José Nilson de Andrade dos Santos (Foto: Ascom UFS Lagarto)
Simone acessando o programa Dosvox para abrir os textos da monografia
Simone acessando o programa Dosvox para abrir os textos da monografia

Vínculo criado

-Desde o primeiro dia que eu vim auxiliar a Geovânia, a gente já criou um vínculo né Geovânia?, pergunta a aluna Marilena Ribeiro.

-É, a gente já criou. Responde a estudante Geovãnia Souza.

Este curto diálogo representa o nível de relacionamento entre a bolsista Marilena Ribeiro, aluna do 1º ciclo de Terapia Ocupacional e a estudante de Nutrição do 2º ciclo, Geovânia Souza, portadora de paralisia cerebral. Além de deixar na sala onde Geovânia tem aula e esperar o momento em que vai para a casa, Marilena também faz o acompanhamento de preparação para as provas. "No Laboratório, a gente tem 5 minutos para cada questão. Ela faz a prova sozinha com toda a bancada e ela tem um tempo bem maior", explicou. Geovânia faz questão de escrever as respostas, embora tenha à disposição a ajuda da bolsista para essa função.

Marilena vive o desafio de conciliar a própria rotina de estudos com o apoio à estudande de nutrição." É difíci é, porque a gente tem um tempo muito corrido. O ideal é que eu ficasse 8 horas por semana, mas como os calouros (novatos) ainda não chegaram, eu só tô ficando quatro por semana". A estudante contou que devido à correria deixa Geovânia com mochila na mão, deixa a colega na sala de aula e avisa: "Geovânia estou estudando, qualquer coisa você me chama".Ela fala sempre que Geovânia não tem diferença alguma dela." Às vezes, no início eu tentava fazer algumas coisas para ela, porque eu não entendia ainda muito bem. Mas agora eu sei que ela é capaz. Ela pode fazer muita coisa sozinha. Às vezes, eu acompanho só por acompanhar, mais por ser amiga".

Para a estudande do 1º ciclo de Terapia Ocupacional, é preciso quebrar as barreiras do preconceito, pois é fator que colabora para a evasão. "Ela pode ter apoio aqui de acessibilidade, mas não é só disso que ela precisa. Ela precisa que as pessoas olhem para ela, como ela é , como ser humano, estudante".

Segundo Marilena, depois que se formar, Geovânia vai ser uma referência para outras pessoas que tem limitação semelhante. "Ela se formando aqui nessa Universidade, vai servir, tem que ser divulgado isso também, para outras pessoas que estão em casa, achando que não conseguem. Vir para a Universidade também e acreditar nelas mesmo, que elas conseguem sim ter um nível superior, ter uma profissão, apesar das dificuldades".

Amizade até quando ficarem velhinhas

"O apoio à inclusão é muito bom, porque além de me ajudar, eu tenho amizade. Eu gosto de fazer amizade, de conversar", disse Geovânia. A futura nutricionista disse que a bolsista é muito alegre, divertida. " Além de me ajudar nas atividades como abrir a porta da sala. Ela me ajuda muito. Conversa quando estou um pouco triste e pergunta o que aconteceu", contou.

Geovânia confirmou que nunca pediu à Marilena para escrever as respostas das provas, mas sabe que pode ter este auxílio. "Até velhinha, quando forem velhinhas, quero a amizade dela", brincou.

Ela deixou uma mensagem de motivação para as pessoas que têm deficiência. "Nunca desistir dos seus sonhos, por mais que difícil sejam. Nunca desistir daquilo que quer. Todos nós somos capazes de vencer".


Da esquerda para a direita,a bolsista de apoio à inclusão, Marilena Ribeiro, do 1º ciclo de Terapia Ocupacional e  Geovânia Souza,do 1º ciclo de Nutrição (Foto: Ascom UFS Lagarto)
Da esquerda para a direita,a bolsista de apoio à inclusão, Marilena Ribeiro, do 1º ciclo de Terapia Ocupacional e Geovânia Souza,do 1º ciclo de Nutrição (Foto: Ascom UFS Lagarto)
Atualizado em: Seg, 19 de junho de 2017, 09:47
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