Localizado no agreste central sergipano, a cidade de Campo do Brito tem uma população, segundo o Censo do IBGE de 2015, de 17.986 habitantes. A produção de mandioca é um dos destaques da agricultura e uma das bases da economia do município. Um dos produtos derivados é a farinha.
O processo de produção da farinha segue basicamente as seguintes etapas: lavagem, ralagem, prensagem, torragem, peneiragem, acondicionamento e armazenamento. Lamentavelmente, é comum a constatação de problemas para a saúde dos trabalhadores, especialmente em virtude da dispersão do pó branco da mandioca, situação que leva ao desenvolvimento de doenças respiratórias ocupacionais, prejudicando a capacidade pulmonar.
Estes problemas foram constatados de forma parcial na pesquisa “Análise da capacidade pulmonar e força musculatura respiratória em trabalhadores de casa de farinha”, coordenada pelo professor Carlos Matos e pelas estudantes, Francielli Peixoto e Verônica Menezes, do curso de fisioterapia. Iniciada em março deste ano, após a aprovação no Comitê de Ética da UFS, a coleta de dados foi realizada por meio de teste de caminhada de seis minutos, pico de fluxo expiratório e de pressões inspiratórias e expiratórias máximas. Foram entrevistados 51 trabalhadores, 39 mulheres e 12 homens, com idade média de 35 anos, no Povoado Gameleira. Os valores foram obtidos a partir de uso de fórmulas matemáticas, de acordo com o sexo e a altura de cada pessoa. Entrevistaram-se descascadores, forneiros, prensadores, raladores.
Teste de Caminhada
Usado para avaliar a capacidade pulmonar e cardiovascular de pessoas doentes ou saudáveis, o teste de caminhada de 6 minutos (TC6), surgiu na década de 1970 e é considerado de simples e de fácil execução. As estudantes constataram uma média de 498,35 metros percorridos, abaixo do esperado, cuja medida é de 649 metros. Na realização desta atividade, as alunas tiveram algumas dificuldades para que os homens participassem. “Quando a gente estava fazendo a coleta com alguém, os outros ficavam tipo zobando, olhando e aí não queriam fazer aquilo porque levava tempo. Outros, porque não tinha quem substituísse no trabalho. A maioria dos homens é forneiro. Não tinha como deixar o forno sozinho e causar a queima da farinha”, explicou a estudante Francielli Peixoto.
Pico de fluxo expiratório (PFE)
Adequado para monitoramento de doenças pulmonares como a asma, o PFE baseia-se na medida do sopro e o objetivo é saber se existe algum problema obstrutivo pulmonar. O valor normal é de 486 L/minuto. Porém, após os testes, as estudantes obtiveram a marca de 354,86 L/min. Primeiramente, o participante realizava uma inspiração para depois soltar o ar. Com os dedos no nariz para que o ar não entrasse e sentados em uma cadeira, os indivíduos, por meio do instrumento peak flow, em que foram usados bucais individuais, para evitar contaminação, sopravam com a força máxima que eles tinham. “O aparelho levanta uma setinha e dá o valor que você alcançou”, descreve Francielli.
Manovacuometria
A manovacuometria, também realizada com os participantes sentados, é um método para a avaliação das pressões musculares respiratórias. De acordo com Francielli, “a gente pedia uma inspiração máxima, fechava o nariz e ele soprava com toda a força no bucal. A gente pegava a Pemax (Pressão Expiratória máxima)”. No caso da Pimax, o participante liberava todo o ar, esvaziando todo o pulmão. Fechava-se o nariz e o ar era puxado dentro do bucal. O que se verificou foi na pressão inspiratória máxima (Pimax),52,35 cmH20 (±13,65), abaixo do padrão, 162,52 cmH20. Na pressão expiratória máxima (Pemáx),58,05 cmH20 (±7,04), também inferior ao esperado, 149,90 cmH20.
Avaliação de saudáveis
Obtidos estes resultados, na etapa seguinte serão realizados testes com pessoas saudáveis. “O objetivo de avaliar saudáveis, seria a comparação em pessoas que não tenham contato com esse ambiente e se existe interferência na função e capacidade pulmonar”,explica o professor Carlos Matos.
Em relação a esta primeira etapa, o docente afirma que a pesquisa não avaliou doenças e nem tanto diagnóstico clínico, pois não é o papel da fisioterapia. “Avaliou sintomas respiratórias e capacidade pulmonar, pois isso interfere na realização de atividades do dia a dia, o quanto isso interfere na função relacionada ao movimento”, concluiu.