Qui, 17 de outubro de 2024, 11:09

Território Feliz une pesquisa, extensão e palhaçaria
Projeto é realizado no campus Lagarto
Grupo Território Feliz em ação. Imagens: acervo pessoal
Grupo Território Feliz em ação. Imagens: acervo pessoal

Palhaçaria, estudo e pesquisa podem andar juntos? O projeto Território Feliz, realizado no campus Lagarto desde 2015 nos mostra que sim. Idealizado pela docente Raphaela Schiassi, do Departamento de Terapia Ocupacional, a iniciativa abrange discentes dos oito cursos do campus, com processo seletivo anual.

O Território Feliz é um projeto de pesquisa e extensão que atua diretamente na comunidade, sobretudo nos distritos de Lagarto e em áreas de vulnerabilidade socioeconômica. Até o momento, cerca de 400 discentes já passaram pelo Território Feliz, desde 2015.

Outro esforço que é feito nas reuniões semanais é trabalhar a autonomia e a visão dos estudantes sobre saúde. "Os discentes conseguem ter uma visão mais humanizada do cuidado, saindo desse modelo cartesiano de cuidado e cura, de acolher somente a patologia, de olhar somente para a doença. Nós conseguimos subverter a realidade, entender que as dificuldades fazem parte da vida, de ter um contato mais afetuoso com os usuários e consigo mesmo", explica a docente.


Lara vestida como Doutora Arco Íris
Lara vestida como Doutora Arco Íris

Essas abordagens têm feito transformações não apenas na vida dos usuários/pacientes, mas também dos discentes que passaram pelo projeto. Lara Vieira está a um ano de concluir o curso de Odontologia, mas garante que não quer deixar o projeto, do qual já faz parte há dois anos. " A gente trabalha com a dupla afetação: não é só afetar o outro, mas também se deixar ser afetado. Não é só vestir uma roupa e se maquiar, ser palhaço vai muito além disso, vem também do íntimo, dos nossos lados mais vulneráveis", pontua. No Território Feliz, Lara é a palhaça Doutora Arco Íris. "Todo mundo diz que quando eu estou de Doutora Arco Íris eu pareço outra pessoa, na verdade é o momento em que eu mais sou eu mesma. Tem sido meu grande momento de paz, minha válvula de escape, é por isso que eu não quero sair", avalia.


Quem fez parte do comecinho do projeto também lembra do impacto. É o caso do terapeuta ocupacional Tássio Cunha que atuou de 2016 a 2018, quando se formou (além de ter feito um curso online de extensão em 2020. "Foi um grande divisor de águas para mim, foi o que me permitiu vivenciar a Universidade em sua integralidade. Foram coisas muito importantes para os profissionais da Saúde", avalia. Tássio também fez o Trabalho de Conclusão de Curso sobre a atuação do Território Feliz no Hospital Universitário de Lagarto. "Os resultados foram muito positivos. A presença do palhaço no contexto hospitalar trazia mais leveza e calma, modificava o ambiente. Hoje, eu trabalho com crianças neurodivergentes e sei que o projeto me capacitou a utilizar esse lado mais lúdico e criativo ", observa.


Professora Raphaela Schiassi criou o Território Feliz
Professora Raphaela Schiassi criou o Território Feliz

Foi justamente o interesse da professora Raphaela Schiassi pela ludicidade da palhaçaria que iniciou as primeiras sementes do que viria a se tornar o Território Feliz. Ainda adolescente, muito antes de sonhar em ser docente, Raphaela se encantou pelo circo e pelas suas dinâmicas. "Eu sempre tive essa vontade, até que aos 14 anos, eu tive uma colega de escola que era do circo. Aí resolvi passar um tempo com eles e vivi de perto a experiência de ser palhaço. No circo aprendi o que é família, amizade, troca, afeto e a enxergar o mundo de uma forma mais subversiva. Mesmo depois, já na preparação para a carreira acadêmica, eu não abandonei esse lado, fiz cursos com pessoas conceituadas na área da palhaçaria”, conta.

“E pessoalmente me sinto muito realizada, pois uma das últimas coisas que meu pai me disse, já no hospital, pouco antes de morrer foi que eu não abandonasse meu sonho, meu sonho de ser palhaço. É importante estar falando do projeto, pois as pessoas acham que o Projeto é algo “menor” tipo palhacinhos em festa infantil e não é nada disso. A arte do palhaço é incrível. Os alunos passam por toda uma formação teórica antes de poder colocar o nariz, não é sair por aí fazendo qualquer coisa, ser palhaço é ter coragem, ser palhaço é dificílimo. O nariz é apenas um código para o outro, pois quando estou de palhaço sou eu mesma, com as minhas vulnerabilidades e potências, sem medo de errar e permitindo a dupla afetação”, acrescenta.

Ana Laura Farias

Campus Lagarto


Atualizado em: Qui, 17 de outubro de 2024, 12:08