Estudos, avaliações e atividades em equipe. Tudo isso faz parte do cotidiano de estudantes universitários, mas um grupo conta com uma dinâmica muito própria: os discentes de cursos com metodologias ativas. É o caso dos alunos dos oito cursos do campus Lagarto. As metodologias ativas seguem durante toda a graduação e iniciam no Departamento de Educação em Saúde, divididas em três eixos: Habilidades, Prática de Ensino à Comunidade (PEC) e Tutorial (inclui atividades do Laboratório Morfofuncional).

Existem diversos tipos de metodologias ativas utilizadas no campus. Algumas são o PBL (Problem Based Learning, na sigla em inglês, ou Aprendizado Baseado em Problemas), sala de aula invertida, metodologia da problematização, dentre outras. Tudo isso é realizado em pequenos grupos, com atenção personalizada para a evolução de cada aluno. O diretor do campus Lagarto, professor Makson Oliveira, defende que o uso das metodologias é um diferencial na formação. “O discente sai daqui com uma visão mais humanizada de saúde, tem contato com a população, aprende a discutir as questões de saúde, além do trabalho em equipe”, avalia.

O vice-diretor, professor Luis Felipe Souza, acredita que os ganhos seguem na vida profissional e beneficiam a sociedade. “Eu moro aqui em Lagarto e fico muito feliz quando vejo as pessoas comentando que passaram por alguma consulta com egressos nossos, dos diversos cursos, e se sentiram acolhidas, vistas de forma integral, não somente como um órgão, por exemplo. E parte dessa visão integral vem justamente das metodologias que adotamos, que fomentam o contato com a comunidade desde cedo”, observa.

Os alunos calouros dos oito cursos do campus (Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Terapia Ocupacional) assistem aulas juntos, no Departamento de Educação em Saúde (DESL). A chefe do DESL, professora Rosiane Dantas, explica a necessidade de acolhimento dos alunos calouros em relação às metodologias ativas, que são uma novidade para quem sempre estudou com metodologias tradicionais durante a vida escolar. “O momento de chegada é realmente de muita dúvida e inquietação. Por isso que nós fazemos esse acolhimento e o primeiro módulo aborda bastante a temáticas das metodologias ativas. É um momento que eles tiram as dúvidas e passam a entender como funciona”, explica.

Um desses alunos é Jeferson Santos, do curso de Enfermagem. “No começo, eu confesso que fiquei um pouco assustado, me gerou um pouco de dúvida e incerteza antes de as aulas começarem. Só que depois a gente vai desenvolvendo habilidades que eu nem sabia que eram tão importantes. Eu não imaginava que hoje iria conseguir aprender tanto sozinho ou me expressar, por exemplo. E isso é muito importante para o trabalho em equipe na área de Saúde”, observa.

As metodologias ativas exigem um ritmo constante de estudo, pois as atividades são semanais e é necessário acompanhar o conteúdo. No caso do Tutorial, que utiliza o PBL, é realizada primeiramente a definição de uma situação-problema. Após isso, cada discente deve, com autonomia, buscar fontes de pesquisa científicos confiáveis e trazer as suas contribuições após a leitura prévia realizada em casa. Segundo o coordenador do Tutorial, professor André Barreto, isso garante uma diversidade de pontos de vista durante a discussão, com o professor assumindo a função de facilitador do aprendizado. “É muito gratificante, enquanto docente, perceber a mudança dos alunos ao longo do ano letivo. São encontros semanais – e a trajetória desse discente é avaliada a cada um desses encontros”, explica.

Essa autonomia na pesquisa é importante para a formação dos alunos, mas requer uma boa orientação e discernimento das fontes de estudo adequadas. A Bilag oferta aos discentes assessoria de pesquisa, por meio da Divisão de Atendimento ao Usuário (Diale). Os estudantes podem entrar em contato diretamente pelo e-mail pesquisa.bilag@academico.ufs.br. “As especificidades das fontes na área de saúde, aliadas às particularidades das metodologias ativas, requerem uma busca adequada e uma olhar atento sobre as informações, que devem ser sempre baseadas em evidências”, avalia a chefe da Bilag, Bárbara Barcellos.

Além da discussão teórica, os discentes do campus Lagarto também têm contato com a prática desde o começo. No Laboratório Morfofuncional (que também integra o Tutorial), os discentes têm contato com modelos anatômicos, aprendem o uso adequado do microcóspio, a identificação de células e tecidos, dentre outras competências.

Outro aspecto prático (embora também acompanhado de discussão sobre o referencial teórico) é o eixo Habilidades, no qual os alunos aprendem procedimentos comuns à área da Saúde, como os primeiros socorros, dentre outros. Em Habilidades, também são realizadas discussões, à luz de outras metodologias, como a sala de aula invertida e o júri simulado, em assuntos como bioética (nesse caso, a definição dos papéis e dos argumentos é realizado pelos próprios alunos, sob supervisão docente). “Na sala de aula invertida, os alunos fomentam a discussão, ela é conduzida por eles. É também o momento em que eles ‘colocam a mão na massa’, pois Habilidades é uma atividade predominantemente prática, que um aspecto muito importante da formação em Saúde”, explica a coordenadora de Habilidades, professora Alessandra Alcides.

O coordenador da PEC, professor Helmir Rodrigues, acredita que as visitas à comunidade, além de servirem para o ensino de tópicos como determinantes da saúde e descentralização do Sistema Único de Saúde, também são válidas para o desenvolvimento de competências necessárias. “É muito nítida a evolução de cada um dos alunos. É um impacto muito interessante de observar. Às vezes, no início do curso, por exemplo, alguns estudantes ainda estão tímidos, falando pouco, mas ao chegar nas comunidades, a experiência no território faz com que esse mesmo aluno desenvolva a comunicação, entenda ainda mais a importância do diálogo. E isso não fica só para a PEC, mas para toda a vida acadêmica e profissional”, avalia.

A partir do segundo ciclo (ano letivo), os discentes seguem para os seus cursos separadamente, mas continuam estudando em metodologias ativas até o fim da graduação. O primeiro doutorado do campus Lagarto, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas à Saúde (PPGCAS) também será realizado em metodologias ativas. O Campus Sertão também oferta seus cursos em metodologias ativas.

Ana Laura Farias

Campus Lagarto